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Hospital Pedro Ernesto não tem brigada de incêndio, afirmam bombeiros

Último laudo emitido pela corporação é do ano de 2000

De acordo com o Corpo de Bombeiros, o Hospital Universitário Pedro Ernesto não possui brigada de incêndio e o último laudo emitido pela corporação para a unidade é do ano de 2000. O almoxarifado do hospital pegou fogo na manhã desta quarta-feira e uma mulher que estava internada na unidade morreu. Uma lei de 2005 prevê que edificações anteriores a 1977 e com mais de 900m2, como é o caso do hospital, devem ter brigada de incêndio.

Segundo a assessoria do hospital, não havia material inflamável no almoxarifado mas detectores de fumaça e de incêndio (sprinklers) estavam instalados no local. No entanto, não há confirmação de que os sprinklers funcionaram e os chuveiros automáticos dispararam água. Ao todo, sete crianças e oito adultos precisaram ser transferidos para outros hospitais.

Durante a manhã, o diretor da unidade, Rodolfo Acatauassú Nunes, teria dito que ainda não havia como afirmar se a paciente, que estava na enfermaria de cirurgia torácica, teria inalado fumaça e se isso teria sido a causa do agravamento do seu quadro de saúde. Edenir Pereira, de 65 anos, que tinha fibrose pulmonar (doença que envolve a cicatrização do pulmão e leva à perda irreversível na capacidade de transferir oxigênio para o sangue), estava em fase terminal segundo os médicos. Segundo o hospital, só vai haver a confirmação se a fumaça contribuiu para a morte da paciente após a perícia emitir o laudo sobre o caso.

Mais cedo, o governador Sérgio Cabral esteve no hospital e afirmou que a fumaça poderia ter contribuído para a morte de Edenir:

– Foi um incêndio, como já conhecido, no almoxarifado. Tivemos, infelizmente, o óbito de uma pessoa, em fase bem difícil, como dita pelos médicos, mas possivelmente a fumaça contribuiu para o óbito acontecer. Uma pessoa com fibrose pulmonar, uma senhora em fase terminal, os médicos podem dizer melhor – afirmou o governador, que disse ainda que a Secretaria estadual de Saúde vai fornecer todo o material hospital necessário para que a unidade continue funcionando.

A mulher morreu devido a uma parada cardiorrespiratória logo após o incêndio na unidade, que fica em Vila Isabel, na Zona Norte. O hospital deu a notícia da morte da paciente para a família errada. Segundo a assessoria do hospital Pedro Ernesto, o erro ocorreu pois a vítima fatal e uma outra paciente estavam internadas com o mesmo quadro clínico e no mesmo andar. Após informar a notícia da morte aos parentes errados, o hospital desfez a confusão.

O incêndio atingiu o almoxarifado do hospital no início da manhã desta quarta-feira. As chamas, que segundo a Secretaria estadual de Defesa Civil foram controladas mais de duas horas depois, teriam começado por volta das 5h, no prédio anexo que dá saída para a Avenida Professor Manoel de Abreu. A área fica entre duas alas do hospital e a fumaça se alastrou para seis setores, como a de cirurgia torácica, neurologia neurologia e a cardiologia. Pacientes foram retirados dos locais afetados e levados para outros setores. Os internados no CTI estão na enfermaria. Ao todo, sete crianças e oito adultos precisaram ser transferidos para outros hospitais devido ao incêndio.

Segundo a direção do hospital, 320 pacientes estavam internados. Cerca de cem precisaram ser atendidos no andar térreo da unidade no momento do incêndio. As enfermarias de neurologia, nefrologia, de cirurgia plástica e torácica, de oftalmologia e de ortopedia, que ficam do segundo ao quinto andares, foram atingidas por fumaça e foram esvaziadas. Alguns setores do hospital continuam interditados, porque foram atingidos por fumaça e fuligem.

Os primeiros que tiveram que sair foram os pacientes do segundo andar. Quando os bombeiros chegaram, desligaram os elevadores, o oxigênio e a energia de parte do hospital. Por isso, alguns pacientes tiveram que descer as escadas. O secretário estadual de Saúde, Sérgio Cortes, disse que um hospital de campanha chegou a ser levado, mas não houve necessidade de ser montado. Por volta das 11h, a direção da unidade permitiu que familiares fossem fazer uma visita rápida. As visitas aos pacientes ocorreram normalmente das 15h às 16h.

Combate ao fogo

Trabalharam no combate ao fogo pelo menos 80 bombeiros dos quartéis de Vila Isabel, Benfica, Tijuca, São Cristóvão, Caju, Central, Irajá, Nova Iguaçu e do Centro de Suprimento e Manutenção de Abastecimento e Lubrificação. Segundo os militares, o fogo causou pânico entre os doentes e funcionários.

Quando o combate ao fogo ainda estava sendo feito, os bombeiros só permitiram o acesso de médicos e enfermeiros para ajudar na remoção dos pacientes, mas dezenas de curiosos se aglomeram no Avenida Vinte e Oito de setembro, atrapalhando o trabalho de combate às chamas. Parentes de pacientes também estão no local, alguns muito nervosos, em busca de informações.

A doméstica Sheila Santos, de 32 anos, estava na porta do hospital em busca de informações sobre o marido, internado na unidade há uma semana. De acordo com ela, o balconista Wagner Pereira Gomes, de 37 anos, ligou para casa e falou com a sogra. Ele falou que o 4º andar, onde está internado para tratar de um tumor no tórax, estava tomado pela fumaça e, em seguida, a ligação caiu.

— Minha mãe me ligou e contou do incêndio. Eu estava indo para o trabalho e vim para o hospital. Estamos sem notícias, não consigo falar com o celular dele. Os pacientes aqui estão abandonados, em péssimas condições. E ainda está em greve — contou a Sheila.

Consultas e exames cancelados

A direção do Pedro Ernesto informa que as consultas e os exames, mesmo em áreas não atingidas pelo fogo, estão cancelados e serão remarcados.

O Pedro Ernesto, que pertence à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), foi inaugurado em 1950 e foi transformado em hospital-escola em 1962. Centro de excelência na área de saúde, a maternidade do Pedro Ernesto é referência em gravidez de alto risco no estado.

A qualidade do serviço prestado no hospital, no entanto, já foi abalada por problemas de infraestrutura. Em 2006, considerada referência no tratamento e transplante de rins, a unidade parou de aceitar novas internações de pacientes com problemas cardíacos e diabéticos. Segundo a direção da unidade, muitos doentes tiveram a dieta modificada por causa de problemas no fornecimento de refeições. No estoque, faltavam alimentos básicos para uma dieta saudável, como frutas e verduras. Para economizar, o leite integral é servido apenas uma vez ao dia.

Esta não é a primeira vez que um incêndio atinge um hospital no Rio. Em outubro de 2010, o Hospital Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste, foi afetado pelo fogo e pacientes em estado grave, além de médicos, enfermeiros e funcionários, tiveram que buscar refúgio numa oficina mecânica em frente à unidade. As chamas foram causadas pela explosão de um transformador de energia elétrica no subsolo. O fogo levou pânico à unidade, provocando a transferência às pressas de 72 pacientes em estado grave. O hospital ficou fechado até o primeiro semestre deste ano.

Fonte: O Globo