Imprensa

Categorias
Notícia

Arquitetura é área essencial para melhorar a proteção contra incêndio

Rosaria Ono é especialista em segurança contra incêndio e professora livre-docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), além de ser membro do Conselho Consultivo do ISB desde 2012. É formada pela FAU-USP, tem Mestrado em Engenharia pela Universidade de Nagoya, no Japão, além de uma passagem pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) como professora e pesquisadora.

Acompanhe, a seguir, a entrevista realizada com Rosaria, na qual ela conta sua experiência na área, a discussão do tema no ambiente acadêmico, além de destacar a importância da Arquitetura e campanhas para conscientizar a população sobre o tema.

ISB – Como e por que a sra. se envolveu com a área de segurança contra incêndio?

Rosaria – Conheci a área de segurança contra incêndio, ainda durante o curso de graduação em arquitetura, na USP, quando fui convidada a fazer um estágio no IPT, no Laboratório de Segurança ao Fogo. Isto foi no terceiro ano do curso. Me interessei pelo assunto, de cunho técnico e pouco explorado, pois estava um pouco insegura sobre o meu futuro profissional como arquiteta, considerando a vertente mais artística. Senti que o tema me abria as portas para uma formação mais técnica. Permaneci no Laboratório do IPT por três anos, até me formar, e depois fui complementar minha formação no Japão, com o mestrado na área.

ISB – De maneira geral, como a sra. avalia o atual nível de discussão deste tema no ambiente acadêmico?

Rosaria – O tema no ambiente acadêmico internacional é discutido em alto nível. No entanto, ainda não acontece muito da mesma forma no âmbito nacional. Mas, aos poucos vem surgindo pessoas interessadas em estudar o assunto de forma mais sistemática. Nos últimos anos, com a implementação da norma brasileira NBR 15575, essa questão também ganhou grande relevância.

ISB – A sra. acredita que a formação oferecida àqueles estudantes que se tornarão profissionais responsáveis por edificações (Arquitetura, Engenharia) sobre o assunto é suficiente?

Rosaria – Não creio que o assunto é dado de forma suficiente nos cursos de graduação em arquitetura ou engenharia, de modo geral. Mas, como professora de uma escola de arquitetura, compreendo, por outro lado, a dificuldade de aumentar a carga horária com mais um assunto, dentre tantos que demandam novos conhecimentos… Mas, por se tratar de um tema de “vida ou de morte”, acho importante a sua inserção no currículo de formação dos futuros profissionais da construção civil.

ISB – A utilização de sprinklers está contemplada na grade curricular dos cursos de Arquitetura? 

Rosaria – Não há obrigatoriedade, no currículo mínimo dos cursos de arquitetura, a menção às instalações de chuveiros automáticos.

ISB – De quais formas a sra. acha que a Arquitetura poderia contribuir com a discussão sobre incêndio em edificações?

Rosaria – Eu tenho certeza de que a arquitetura é essencial e pode contribuir muito para a melhoria das condições de segurança contra incêndio em edificações. Ou melhor, a arquitetura é o meio pelo qual pode se resolver muito das questões de segurança contra incêndio. Mas, infelizmente, poucos arquitetos sabem da importância das decisões arquitetônicas para a segurança contra incêndio das edificações.

ISB – A sra. acha que poderia haver maior intersecção entre as universidades e os especialistas do mercado que atuam no setor? Como?

Rosaria – Sim, uma maior aproximação entre o meio acadêmico e os profissionais do mercado em cursos profissionalizantes, como de arquitetura e de engenharia, é muito importante. Normalmente, tentamos fazer essa aproximação ao convidar palestrantes em algumas aulas específicas.

ISB – O decreto que estabelece o Código de Incêndio de São Paulo está passando por revisão. Que mudanças a sra. espera que ele traga?

Rosaria – Espero que o novo decreto propicie condições para o avanço na área e nas condições de segurança contra incêndio das edificações e das cidades como um todo, com a implementação de um sistema que contribua para a garantia da qualidade dos meios de proteção contra incêndio (produtos, sistemas e serviços).

ISB – O incêndio costuma ser uma espécie de não assunto, pois é algo que se trabalha para não ocorrer. Ao mesmo tempo, é preciso sensibilizar a sociedade sobre a importância do tema. Na sua opinião, qual seria uma forma eficaz de se fazer isso?

Rosaria – Vejo como de extrema importância o desenvolvimento de campanhas de conscientização, visando à sensibilização da sociedade quanto às medidas de prevenção e proteção contra incêndio. Deve-se iniciar com a educação de crianças em escolas, que deveria permear a vida dos estudantes (conhecimento básico sobre fogo, prevenção e também a prática da rotina básica de simulado de abandono de edificações) e também a vida dos adultos (nas faculdades e nas empresas). Em específico, há a necessidade de também alertar os profissionais da arquitetura e engenharia, assim como os responsáveis legais pelos imóveis, sobre as consequências de um incêndio em sua edificação (responsabilidade civil e criminal).