O incêndio na loja de tecidos Dois Anjos, no Estreito, é o de maior proporção em Florianópolis desde o incidente no Mercado Público da Capital, ocorrido há nove anos. O fogo que começou por volta de 23h15min de segunda-feira atingiu todos os 4881,92m² do prédio. Apenas a estrutura que comportava a caixa d’água, algumas colunas e uma das paredes ficaram de pé. As causas ainda são desconhecidas e só devem ser apuradas depois de uma avaliação da Defesa Civil. Nenhuma informação sobre um possível acionamento do alarme, que teria ocorrido por volta das 23h, foi confirmada.
Segundo o agente da Defesa Civil, Marcos Roberto Leal, os moradores dos prédios interditados estão instalados em casas de parentes. A liberação só deve ocorrer após a extinção total do incêndio — que pode levar até três dias — e uma avaliação da estrutura das edificações localizadas nas proximidades do prédio.
Vizinha da loja, Glades Guimar Pereira, 32 anos, achou que os estalos que ouvia eram o coelho da família batendo em um pedaço de madeira, mas depois de um grito de alerta vindo da casa ao lado, ela acordou o marido pensando que havia um ladrão no telhado. Bastou olhar para o quintal para ver o incêndio, ainda tímido, na Dois Anjos.
Apenas com a roupa do corpo, Glades levou suas filhas de 3 e 6 anos para a casa de um parente. Ela e o marido ficaram no carro da família acompanhando os desdobramentos e o coelho só foi salvo após a autorização dos bombeiros, que permitiram que um cunhado entrasse na casa para salvar o animal.
Enquanto a casa de Glades e outras seis edificações eram ameaçadas pela queda de destroços, funcionários e amigos dos trabalhadores de uma concessionária salvavam 15 veículos que estavam em um depósito na rua vizinha à loja.
— Recebi a ligação do síndico do prédio que fica em frente à concessionária avisando do incêndio. Ele, um funcionário e outras pessoas conseguiram retirar os carros — diz o gerente de pós-vendas Sidnei Marcos Darcarol.
Apesar de terem seguro dos veículos, o prejuízo em potencial era de R$ 1,5 milhão. Os funcionários da concessionária passavam pela Dois Anjos para comprar artigos para casa e nunca imaginavam que um incêndio pudesse atingir o local
— A gente sabe que pode acontecer, mas não passava pela cabeça algo assim. Era uma loja grande, bonita, bem cuidada, com prédio novo — conta Sidnei.
Incêndio se espalhou rápido
Eram exatas 23h21 quando o Centro de Operações do Corpo de Bombeiros recebeu o chamado informando o incêndio e ordenou o deslocamento de um caminhão da base — a 300 metros da Dois Anjos — para a loja. Pouco mais de um minuto depois o combate às chamas era iniciado.
O comandante do 1º Batalhão de Bombeiros Militares, Tenente-Coronel Flávio Graff, foi comunicado por celular enquanto já estava na cama. Vestiu o uniforme e foi a campo, ao lado dos 12 caminhões e 36 militares que participaram do auge da operação:
— Quando cheguei as chamas ainda estavam na parte interna da loja. Houve flashovers (é o aquecimento de gases produzidos pela queima de material combustível, que causa explosões) e o fogo se espalhou rapidamente, comprometendo a estrutura — explica Graff.
O comandante-geral dos bombeiros, Coronel Marcos de Oliveira, explica que as casas da rua Marcelino Simas — vizinhas à loja — foram poupadas por conta do trabalho de um caminhão equipado com uma escada de 39 metros, que permite atacar as chamas por cima.
— Nessa operação foi importante o trabalho deste tipo de equipamento, para evitar a exposição dos bombeiros aos destroços. Com a escada conseguimos resfriar a parede lateral para que ela não caísse nas casas do lado — explica o comandante-geral.
Funcionário pensou que fosse brincadeira
Por volta de 23h30min, o chefe do setor de vendas Cláudio Antônio Silva recebeu peloWhatsapp uma mensagem no grupo de funcionários da Dois Anjos sobre um incêndio:
— Falei que 23h30min já estava tarde demais para brincadeiras. Aí que fiquei sabendo que era verdade — conta Silva.
Apesar de muito tecido e espumas dentro da loja, Silva diz que ninguém acreditava na hipótese de algum dia ocorrer um incêndio. Fiscalizações e inspeções eram constantes e os extintores haviam sido trocados há pouco tempo, diz Cláudio.
Vistoria de manutenção atrasada
Segundo o Coronel Oliveira, toda a documentação da empresa estava em dia, com exceção da vistoria de manutenção, que estava atrasada desde o dia 6 de janeiro:
— Seria como um carro que circula com o licenciamento vencido — explica o coronel.
Segundo o Sistema Integrado de Gestão da Administração Tributária (Sigat) dos Bombeiros, a última vistoria foi realizada dia 7 de janeiro de 2013, onde o funcionamento foi aprovado sem nenhuma observação.
Fonte: Diário Catarinense