No começo de julho, foi realizada uma reunião da Frente Parlamentar Mista de Segurança Contra Incêndio no Congresso Nacional, em Brasília (DF). Durante a ocasião, a Diretora de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Profª. Drª. Adriana Maria Tonini, anunciou que a área de pesquisa “Segurança contra Incêndio” passou a ser oficialmente reconhecida pelo órgão, que é vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. O Instituto Sprinkler Brasil (ISB) avalia a novidade como uma verdadeira conquista para o setor.
“Anteriormente, era possível que pesquisas e projetos se encaixassem apenas em áreas tradicionais como Engenharia e Arquitetura. No entanto, o conhecimento contra incêndio é transdisciplinar, podendo passar por Pedagogia, Física, Química e Psicologia”, explica o Coronel e Dr. George Cajaty Barbosa Braga, do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, que é um dos entusiastas desse pleito. Segundo o porta-voz, já fazia um tempo que essa demanda existia, mas antigamente falava-se muito sobre esse assunto dentro do campo da Engenharia. “Optamos por ampliar. Várias áreas, inclusive mais humanas, como Psicologia, são afetadas. O reconhecimento facilita a visão do incêndio de um ângulo mais abrangente”, ressalta.
Da mesma opinião compartilha a Diretora Adriana Maria Tonini, Engenheira e Doutora em Educação. “Com essa mudança, o pesquisador consegue localizar nos sistemas do CNPq esta área de conhecimento específica. Anteriormente, era uma questão restrita à Engenharia. No futuro, a mudança facilitará a identificação de diferentes pesquisas na área”, afirma. Ao ser reconhecida, a “Segurança Contra Incêndio” ganha evidência, facilitando assim a mensuração da quantidade de estudiosos sobre o tema.
Coronel Cajaty reforça que houve várias tentativas na direção dessa conquista, porém de outras maneiras. Recentemente, foi feita uma apresentação ao CNPq, dando mais relevância a esse segmento. “O setor que mais contava com estudos era o de resistência ao fogo, mas no momento não há nada que tange a reação às chamas – por exemplo, como objetos se comportam quando incendiados. Não há um laboratório no Brasil atribuído disso, como há nos Estados Unidos, onde praticam-se experiências de incêndio induzido em áreas isoladas do tamanho de um hipermercado para testar e medir os impactos”, acrescenta.
“Instituir a área é importante para produzir pesquisas e conhecimento que não temos hoje. Nos EUA, sabe-se especificamente o tempo em que as chamas alcançam determinado local”, complementa. Formado em Física e pós-doutor em Tecnologia de Combate a Incêndio pelo National Institute of Standards and Technology (NIST), Coronel Cajaty problematiza sobre a falta de mensuração e cita um exemplo da casa noturna Station, em Rhode Island (EUA), cujo incêndio, provocado por fogos de artifício em contato com espuma, se assemelha à tragédia da boate Kiss, em Santa Maria (RS).
“O NIST reproduziu um local idêntico, ateou fogo e estudou o comportamento. Avaliaram o cenário caso houvesse Sprinklers instalados e, na sequência, tiveram conclusões embasadas. O que não se mede não se dimensiona. É uma cultura preventiva que nos falta”, pondera. O estudioso comenta que tragédias recentes, como as no Museu da Língua Portuguesa e no Memorial da América Latina, ambos em São Paulo (SP), deveriam ser estudadas à exaustão a fim de se evitarem repetições.
Em entrevista, a Drª. Adriana Tonini salientou que o anúncio, dado na mais recente reunião da Frente Parlamentar Mista de Segurança Contra Incêndio, foi muito bem recebido por ambas as partes. A acadêmica enfatiza que, atualmente, há 1.867 doutores cadastrados na Plataforma Lattes e 200 bolsistas de produtividade em pesquisa que atuam em áreas relacionadas ao tema incêndio. A inclusão da “Segurança Contra Incêndio” facilitará a identificação dos que se interessam em pesquisar sobre o assunto, possibilitando uma conexão entre diferentes áreas do conhecimento (Humanas, Saúde/Biológica ou mesmo outros desmembramentos de Exatas), e ressaltando a transdisciplinaridade da área, não mais restrita aos acadêmicos de Engenharia.
Dr. Cajaty, também Presidente da Associação Luso-Brasileira para a Segurança Contra Incêndio (ALBRASCI), pontua que outros avanços precisam ser feitos no futuro. “Há tempos, tentamos criar um Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia em Segurança Contra Incêndio. O órgão operaria em rede. Gostaria que isso pudesse ser realizado de alguma forma”, expressa. O estudioso menciona outras demandas também relevantes: a instituição de laboratórios para que haja pesquisa de fato; a criação de uma rede para analisar o comportamento em relação ao fogo; a potencialização das capacidades dos centros acadêmicos e o incentivo a pesquisadores a irem a outros países a fim de estimular o intercâmbio de conhecimentos.